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Foto do escritorStella Costa

A pressão criativa

            Às vezes me pergunto quando foi que eu perdi a essência da minha criatividade. Era tão fácil colocar meus sentimentos no papel e produzir poemas, músicas, histórias... Era fácil desenhar ou pintar. Mas hoje parece que tudo se apagou. Nesse constante mundo de informações me sinto atrasada, como se precisasse logo produzir algo incrível e diferente. Aquela atividade terapêutica de fazer arte se transformou em um trabalho, como se eu devesse ser perfeita e pintar algo digno de ser comprado ou escrever o próximo bestseller. Não mentirei dizendo que isso não seria legal, mas colocar toda essa pressão só me faz afogar minha criatividade em promessas irreais.


            Quando foi a última vez que você se permitiu se deixar levar por seu hobbie, apenas para relaxar e se divertir, sem ser o melhor ou saber todas as técnicas, sem ser profissional?


            Quando tentamos precificar atividades que deveriam ser prazerosas para a gente, é comum acabarmos colocando o valor do seu hobbie nos possíveis compradores dele. Então nos perguntamos o que seria digno de ser vendido. Mas o valor dessas atividades só pode ser procurado em nossa relação com elas, ao nos dar prazer. Essa simples palavra “prazer” já é motivo suficiente para nos deliciarmos as praticando.


            Eu não estou dizendo que você não pode transformar algo que ama fazer em sustento, mas deve sempre se lembrar que faz porque ama e não porque deve.


            Vamos tomar sobre exemplo a minha escrita. Já tentei escrever milhões de livros. Sempre tenho várias ideias, escrevo roteiro, identifico personagens, escrevo 10 páginas do rascunho e paro. É como se a criatividade e motivação só existissem no esboço do projeto. Assim que eu começo a trazê-la para a realidade, me perco no vazio de ideias ou ainda pior, no turbilhão da mente. Eu deveria escrever porque me diverte ou porque me salva sempre da sobrevida, mas ao traçar tantas expectativas para as minhas palavras e colocar a responsabilidade no outro para que digam se elas valem a pena, eu as tiro de seu significado para quem mais importa nesse processo: eu. Às vezes o medo é tão grande da opinião alheia que eu guardo minhas palavras do mundo e, comumente, até de mim mesma.



            Se a criatividade é a atividade de criar, como minhas criações podem sobreviver a constantes destruições pelo meu eu ansioso? Como podem existir, se por vezes as abandono antes de se tornarem mais que páginas em branco?


            A criatividade pode ser exercitada por todos, até os que se consideram menos criativos, mas para isso é preciso a deixar correr livre, sem julgar as ideias mais mirabolantes ou as frases mais confusas, apenas deixando-a existir tranquila e liberta, como se pudesse ser a chave para tudo no mundo, mas não precisasse ser!

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